sábado, 23 de novembro de 2013

Taça da Rússia 2013 - Dança

A categoria de dança na Taça da Rússia 2013 terminou com este resultado global:

RESULTADO FINAL

1.ºEkaterina Bobrova & Dmitri Soloviev

Rússia
168.32pts

2.ºKaitlyn Weaver & Andrew Poje

Canadá
163.14pts

3.ºMadison Chock & Evan Bates

EUA
153.37pts

4.ºEkaterina Riazanova & Ilia Tkachenko

Rússia
152.36pts

5.ºKsenia Monko & Kirill Khaliavin

Rússia
145.92pts

6.ºPiper Gilles & Paul Poirier

Canadá
134.66pts

7.ºGabriella Papadakis & Guillaume Cizeron

França
124.27pts

8.ºSiobhan Heekin-Canedy & Dmitri Dun

Ucrânia
123.57pts

ANÁLISE
 
O par russo Bobrova & Soloviev venceu a parte da dança curta com 6.92pts de avanço sobre o par canadiano Weaver & Poje. No entanto, os canadianos venceram a parte da dança livre. Bobrova & Soloviev venceram a classificação geral final com 5.18pts de avanço. No que respeita à medalha de bronze, a luta foi renhida entre Chock & Bates e Riazanova & Tkachenko. Chock & Bates foram quartos na dança curta mas recuperaram na dança livre. A diferença entre o terceiro e o quarto lugar foi apenas de 1.01pts.
Um aspecto muito importante a salientar na categoria de dança é o de que às vezes nem sempre o mais óbvio é melhor pontuado em termos coreográficos. Estou a puxar este assunto porque nos grandes fóruns de patinagem artística em inglês muita gente preferiu a dança livre de Weaver & Poje. As comentadoras de patinagem artística no canal Eurosport em português criticaram a dança livre de Bobrova & Soloviev. No entanto, eu tenho de manifestar a minha discordância face a essas criticas. Vou tentar explicar melhor o porquê da minha discordância.
O par Bobrova & Soloviev optou por uma combinação de músicas: "As quatro estações" de Vivaldi e "Lacrimosa" de Mozart. No entanto, eles evitaram fazer uma interpretação literal do tema. Lá pela primeira música se chamar "As quatro estações" não significa que eles estejam a querer representar movimentos alusivos ao Verão, Outono, Inverno e Primavera. A história contada na coreografia de Bobrova & Soloviev é a seguinte: eles representam dois pássaros que estão no seu ninho descansando quando se apercebem que vão ser perseguidos por um caçador. Aliás, logo no inicio da dança se ouve o efeito sonoro de cães a ladrar para simbolizar o caçador. Eles acordam, ainda aturdidos, e começam a fugir (inicio de movimentos e passos). Entretanto, Bobrova vai fazendo alguns movimentos com os braços para simbolizar as asas. Na figura de elevação em linha recta, Soloviev eleva Bobrova e ela fica numa posição como se fosse voar. A meio dessa figura, ouve-se o efeito sonoro de um tiro. Ainda na mesma figura de elevação, Soloviev baixa Bobrova para simbolizar que ela (salvo seja) foi atingida pelo tiro. Nesse instante, a música muda para "Lacrimosa" de Mozart. Contextualizando a escolha da música, relembro-vos que essa música de Mozart faz parte de uma obra maior chamada "Requiem" e trata-se de um elogio fúnebre. No movimento seguinte a essa figura de elevação referida, Bobrova fica numa posição como se estivesse enfraquecida e somente apoiada no pescoço de Soloviev. Nesse movimento continuo ele continua a ondular o braço esquerdo como se fosse um pássaro. De seguida eles avançam para o peão de par e numa das variantes do peão podemos ver Bobrova a agitar o braço direito a partir do coração, como que associando às batidas do coração moribundo. Na figura de elevação seguinte, Soloviev está com ambos os joelhos fletidos para ficar numa posição baixa e segura Bobrova que com os braços simboliza que quer voar novamente e já não consegue (atenção ao pormenor dos movimentos dos braços). Não é à toa que nessa figura de elevação vão numa posição baixa. A última figura do programa é a elevação coreográfica em que Soloviev eleva Bobrova como que em jeito de memória que ela já foi um pássaro e depois baixa-a, representando a morte dela. Nos últimos segundos ouve-se o efeito sonoro como se fosse o grasnar de uma ave e Soloviev colocas ambas as mãos em Bobrova como se as suas mãos fossem as garras de um pássaro. Podem reparar na posição em que as mãos dele ficam. É isto que devem ter em mente quando apreciarem esta dança livre do ponto de vista coreográfico. Os movimentos corporais ajudam a entender o contexto da história. É uma coreografia que exige que se preste atenção aos pormenores. É óbvio que nem toda a gente é obrigada a gostar destas músicas nem deste género mais dramático de interpretação. No entanto, eu entendo que não devem menorizar o esforço do coreógrafo nem dos patinadores nesta interpretação. Às vezes há coisas que não se apanham bem à primeira vista e que é preciso voltar a ver para conhecer melhor. Este talvez seja um desses casos.
No que toca a Weaver & Poje, eles optaram por utilizar o tema "Maria de Buenos Aires". Trata-se de um dos mais populares temas do argentino Astor Piazzolla. Como o nome indica, é uma coreografia baseada no tango argentino. Uma das coisas que mais gosto neste par e nesta dança livre em particular é que ambos são excelentes interpretes de uma relação amorosa homem/mulher, seja em que variante fôr (alegria, tensão, amor, ciume, etc). Acho que não preciso de me alongar muito sobre a dança livre deste par pois praticamente toda a gente conhece tango argentino e tem noção do tipo de apresentação e de emoção que ele caracteriza. E é precisamente neste ponto que devo pegar para compará-los artisticamente com Bobrova & Soloviev. É que é mais "fácil" pegar num tipo de tema e de coreografia que seja conhecido do grande público e seguir um estereótipo já existente do que tentar criar algo novo e uma história própria. Weaver & Poje são carismáticos e sabem chegar ao grande público. Mas isto não é só uma gala. É uma competição. E sendo uma competição temos necessariamente de compará-los e entender que é natural que Bobrova & Soloviev tenham notas de interpretação e coreografia superiores às de Weaver & Poje. Este é o resumo do que vos queria dizer sobre a coreografia.
Mas por que é que Weaver & Poje venceram a parte da dança livre? A resposta é simples: Bobrova & Soloviev tiveram um erro grave. Bobrova caiu num movimento de ligação entre elementos. Obviamente que os juízes foram obrigados a aplicar um ponto de dedução pela queda. Outro aspecto técnico importante é que a sequência de passos na circular no programa de Bobrova & Soloviev foi de nível 2 enquanto que a de Weaver & Poje foi de nível 3. Como vos disse acima, Bobrova e Soloviev tinham uma grande vantagem pontual da dança curta e por isso a sua liderança na classificação final não foi ameaçada.
Finalizo esta análise com uma palavra de apreço pelas danças livres de Monko & Khaliavin, Gilles & Poirier e Papadakis & Cizeron, pelo facto de terem arriscado usar temas musicais que não é comum ouvir em competição e por terem mostrado originalidade na coreografia e em elementos.
 
 
VIDEOS

Bobrova & Soloviev
Dança curta
http://www.youtube.com/watch?v=y3QriHFPl7k
Dança livre
http://www.youtube.com/watch?v=TI3EuZ_sC3w

Weaver & Poje
Dança curta
http://www.youtube.com/watch?v=N8c5Q2dwuxA
Dança livre
http://www.youtube.com/watch?v=XsEBzz3x-Ww

Chock & Bates
Dança curta
http://www.youtube.com/watch?v=-NdswcusTIg
Dança livre
http://www.youtube.com/watch?v=2eDICrfERsU

Riazanova & Tkachenko
Dança curta
http://www.youtube.com/watch?v=_uCJlUOnBJI

Monko & Khaliavin
Dança curta
http://www.youtube.com/watch?v=KcRyxYChkkI

Gilles & Poirier
Dança curta
http://www.youtube.com/watch?v=2WdZtzr_GVk
Dança livre
http://www.youtube.com/watch?v=LINsgDnpXek

Papadakis & Cizeron
Dança curta
http://www.youtube.com/watch?v=0tM-2VM_j9w
Dança livre
http://www.youtube.com/watch?v=-m5upuC2i7Y

Heekin-Canedy & Dun
Dança curta
http://www.youtube.com/watch?v=-_AqMMMFJ5E

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