terça-feira, 17 de maio de 2016

Tradução de entrevista de Nina Mozer

A treinadora russa Nina Mozer, conhecida pelo seu trabalho com os campeões olímpicos Tatiana Volosozhar & Maxim Trankov, concedeu uma entrevista interessante ao jornalista Felix Zagrebnoi. Mozer também é treinadora do par Ksenia Stolbova & Fedor Klimov e do par Evgenia Tarasova & Vladimir Morozov. Neste post podem ler a tradução de parte dessa entrevista para português. 
O link original é este: http://rsport.ru/interview/20160510/920608541.html


Entrevista com Nina Mozer

Pergunta (P) - Como é que correu a temporada? O que é que resultou e o que é que correu mal?
Nina Mozer - Foi uma época ambígua. Existem muitas perguntas que eu faço, essencialmente a mim própria. A patinagem artística mudou muito desde os Jogos Olímpicos de Sochi. Mudou no caminho de elementos mais complicados, que actualmente são o maior foco. Nós costumávamos ser ensinados não só sobre coisas profissionais mas também sobre o lado humano - a capacidade de compreender e analisar situações. Eu sei que existem desportos de coordenação como os saltos para a água, ginástica e patinagem artística. Os asiáticos estão a dominar estes desportos. Eles são velozes por natureza. Os seus músculos de velocidade são duas vezes maiores do que os dos europeus. Tudo o que tenha a ver com a rotação e coordenação rápida é muito importante nestes desportos. No que diz respeito a resultados, os que estão a ganhar são chineses nascidos no Canadá, cazaques, chineses e japoneses. Eles fazem coisas únicas. Existem coisas que nós não conseguimos fazer por natureza. O único europeu no pódio é o Javier Fernandez mas ele é latino - os latinos também são um pouco diferentes de nós. Claro que nós temos as nossas tradições mas o que é normal para as pessoas brancas é de um nível diferente. Parece que aquilo em que somos bons já não é competitivo.


P - Então por que é que as nossas meninas andam a ganhar tudo?
Nina Mozer - Como tu sabes, uma mulher russa é capaz de travar um cavalo que vai em velocidade máxima e entrar numa casa em chamas... Nós vemos uma nova campeã todos os anos porque as meninas são muito talentosas. Além disso, a mentalidade dos homens e mulheres orientais é diferente. Se o homem é um lutador, a mulher é uma dona de casa. E também há outro problema: assim que as meninas crescem e entram na puberdade elas mudam e os resultados também. Felizmente, as nossas escolas de patinagem trabalham bem e há uma longa linha de meninas que estão a crescer aqui e daí a esperança de que vamos nos manter no topo. No entanto, as americanas estão logo atrás de nós. 

Nota: fiquei estupefacta com algumas frases de Nina Mozer pois parecem um bocado preconceituosas quanto a etnias e nacionalidades....

P - A Adelina Sotnikova não conseguiu manter-se no topo depois de Sochi
Nina Mozer - Isso é algo pelo qual todas passaram. A Maria Butyrskaya, a Irina Slutskaya. Elas eram raparigas super talentosas e depois passaram por um período em que tudo desapareceu; elas voltaram como mulheres - bem formadas e a saber como lidar consigo próprias, o seu peso, a sua energia e as suas emoções. Tudo precisa de encaixar no seu devido lugar. Podem tornar-se campeãs se tudo se encaixar. Tal como na moda existem Udashkin, Versace e Dior e depois os outros que apenas cosem. É necessário ter talento natural, especialistas com quem trabalhar e a vontade do atleta. 

P - Quão difícil é treinar duas parcerias de grande nível?
Nina Mozer - É uma situação ambígua. Quando estão a patinar todos juntos e se vêem uns aos outros é estimulante. Mas eles não são parceiros de luta, porque nos parceiros de luta um é o líder e o outro está lá para puxar. Aqui todos querem ganhar. Por isso podem ver-se mas nunca patinam ao mesmo tempo. É impossível devido a várias razões que não são para aqui chamadas. Quando tu colocas dois pares iguais na pista ao mesmo tempo, acabas por prestar mais atenção a um do que ao outro mesmo sem ser intencionalmente. Quando surgiu a situação de ter diversas parcerias de topo no grupo, eu tomei a decisão de que eles não iam patinar ao mesmo tempo. Eu passarei mais tempo na pista.

P - Tu não tens um primeiro, um segundo e um terceiro par?
Nina Mozer - É complicado. Tu podes dizer isso dependendo das suas classificações. Mas é uma competição e tudo muda. Eu gosto de todos eles. A Tatiana e o Maxim estão no meu grupo há 6 anos. Eles começaram a patinar juntos no meu rinque, nós começámos este caminho juntos. Stolbova & Klimov também estão junto há 6 anos. Eles chegaram como uma equipa pronta - tinham sido sextos classificados nos campeonatos da Europa mas nunca tinham participado nos mundiais. Eles chegaram a uma equipa com um determinado sistema que lhes permitiu chegar ao topo de forma rápida. Eles tinham ambição e tudo funcionou. Eles chegaram aqui como o par n.º 4  da Rússia; eles tinham que provar que iriam representar o país de forma decente nos Jogos Olímpicos. A competição interna no país foi uma grande alavanca para eles.

P - O que é que podes dizer sobre Tarasova & Morozov?
Nina Mozer - Há uma escola nas montanhas Vorobioevy onde eu sou a treinadora principal. Estes dois cresceram nesse rinque. Eu fico muito surpreendida quando algumas pessoas dizem que eu só trabalho com atletas que já são bons. O Vladimir está comigo há mais de 8 anos. Ele veio aqui fazer testes quando ainda era um rapaz. O seu crescimento e desenvolvimento foi no rinque perante os meus olhos. Estivemos sempre perto. A Evgenia chegou como uma patinadora individual promissora mas sem muito sucesso. Ele mudou-se para a categoria de pares na nossa escola. Eu tive que convencer o treinador dela que a Evgenia era suficientemente decente para patinar e resultou! É o nosso par da casa. Esta temporada eles executaram um quádruplo twist nos nacionais. Nós tentámos um quádruplo salto lançado com o auxílio de cordas (nota: quando aprendem saltos lançados novos as patinadoras costumam estar seguradas por cordas que estão presas a uma estrutura para não caírem e não se lesionarem). É duro mas nós estamos a tentar chegar lá. 

 
Nina Mozer também é a treinadora principal do par Evgenia Tarasova & Vladimir Morozov


P - O que é que lhes falta para se tornarem líderes?
Nina Mozer - Penso que experiência. Esta é apenas a sua segunda temporada no escalão sénior. No primeiro ano eles chegaram à selecção devido às lesões dos outros. Eu fui com eles aos seus primeiros mundiais onde eles conseguiram um resultado fantástico (6.º). É um dos pares mais jovens no mundo. Este ano eles sabiam que eram os reservas. Mas mais uma vez conseguiram ir aos mundiais e foram quintos. Nós falámos sobre isso quando ainda não sabíamos que pares iriam participar nos campeonatos do mundo - haviam lesões. Eu disse-lhes que eles tinham de estar preparados para ir aos mundiais como líderes. Foi duro. Quando eu lhes disse mais ou menos a mesma coisa há dois anos, a Evgenia desligou-se. Foi como quando ela patinava sozinha - ser incapaz de mobilizar todas as suas habilidades no momento necessário. Agora ela já aprendeu. Eu sei exactamente que palavras têm de ser ditas à Evgenia Tarasova antes dela patinar. Eu não estou junto das barreiras mas sei exactamente o que lhe dizer depois do aquecimento. É muito importante.

P - Tu não estavas a planear a ida da Tatiana e do Maxim aos mundiais. Por que é que foi decidido que eles iam participar?
Nina Mozer - A competição principal foi o campeonato da Europa. Quando a selecção para os mundiais foi decidida, sucedeu que a Yuko Kavaguti estava lesionada e que Astakhova & Rogonov ficaram em sétimos nos europeus. Iam existir mais 5-6 pares fortes nos mundiais. Além disso o Fedor Klimov estava lesionado. Então a Tatiana, o Maxim e eu sentámo-nos depois dos europeus e percebemos uma coisa simples: nós podíamos ficar sem lugares suficientes nos mundiais na época pré-olímpica. Então simplesmente começámos a preparação. Não foi para nós próprios mas sim pelo país. 

Nina Mozer à esquerda com Maxim Trankov e Tatiana Volosozhar durante os Jogos Olímpicos em Sochi 2014. À direita da imagem está Stanislav Morozov que na altura era o seu assistente.
  P - A lesão do Klimov foi grave?
Nina Mozer - Nem fazes ideia. Ele quase ficou aleijado. O nosso favorito Jorje Fernandez salvou-nos. Ele foi capaz de trazer o Fedor de volta à vida. O seu ombro ficou pendurado e durante dois meses foi incapaz de levantar o braço acima do nível do ombro. Quando ele foi ter com o Jorje, este telefonou-nos e disse que os músculos do peito e os trícipites do Fedor estavam atrofiados. Nós nem sequer falávamos de continuar a carreira mas o Jorje disse que ia tentar o seu melhor. Tudo aconteceu (a evolução favorável) porque o Fedor é muito paciente. Em Novembro, ele fez qualquer coisa e não podia patinar então o nosso massagista de algum modo conseguiu trazê-lo de volta. O Fedor estava melhor mas ainda havia algo que o perturbava. Em Janeiro, quando os médicos voltaram a colocar as suas vértebras no sítio, soube-se que o nervo estava "quase morto".

Ksenia Stolbova & Fedor Klimov são treinados por Nina Mozer

P - Porquê tantas lesões?
Nina Mozer - Eles são fanáticos, todos eles querem ganhar, querem medalhas, eles têm vontade de tentar e arriscar. A disciplina de pares agora é um risco para a vida. As lesões são horríveis. Olha, na disciplina de pares quase todas as equipas de topo estiveram lesionadas nesta temporada. Especialmente aquelas que arriscaram um salto quádruplo lançado. Uma atleta americana ficou aleijada, uma das chinesas estava a patinar com -8% de visão num dos olhos, a canadiana campeã do mundo queria fazer dois saltos quádruplo lançados mas desistiu disso depois de se ter lesionado nos queixos, a Kavaguti rasgou o tendão de Aquiles fora da pista e que eu penso ser o resultado do quádruplo. Smirnov e ela tinham começado a realizar dois quádruplos. Mas o corpo não é imune.

P - Voltemos aos campeonatos do mundo. O que é que tu pensas do resultado dos nossos pares?
Nina Mozer - Alguns podem dizer que os 4.º, 5.º e 6.º lugares são um falhanço. Por amor de Deus. Sim, não houve medalhas mas os nossos pares ficaram no top 6. Claro que nós queríamos fazer melhor e lutar pelas medalhas; nós estamos habituados a estar no topo mas houveram muitas razões incluindo psicológicas. Deixa-me dizer-te um pequeno pormenor: cinco dias antes de partirmos para os mundiais, nós tivemos de mudar os patins do Maxim - o patim esquerdo estava mau, três dias antes da competição uma lâmina da Tatiana partiu-se. Então nós corremos a comprar patins novos e começamos a patinar com lâminas novas. Eu nem sei o que lhe chamar - destino, má sorte. Mas eles foram buscar a sua força interior para ir lá e lutar.

P - A Tatiana e o Maxim têm motivação suficiente?
Nina Mozer - É sempre uma pergunta difícil. Nós tentamos encontrá-la todas as vezes. Não consigo dar uma resposta mais assertiva. 

P - Há alguma certeza de que eles vão continuar a patinar até aos Jogos Olímpicos?
Nina Mozer - Só Deus sabe. Os pensamentos estão a mudar. Nós assumimos e Deus decide. A vontade existe mas existem coisas que não dependem de nós. Depois desta temporada, em que enfrentei tantos problemas, eu não posso ter a certeza. 

P - Quais são os objectivos dos teus três pares para a próxima época?
Nina Mozer - Nós vamos discutir isso. O seu principal objectivo é vencer, serem competitivos e efectuar os elementos de grande nível. Este ano vou deixá-los decidir eles próprios o que querem fazer. Coreógrafos diferentes. Só a Ksenia e o Fedor é que estão a trabalhar com o Nikolai Morozov. O resto é segredo.

P - Tens seguido os júniores?
Nina Mozer - Este ano não mas no próximo sim. Eu tenho dois pares interessantes: Albina Sokur & Roman Pleshkov e outro par novo interessante - Daria Loboda & Daniil Parkman. Eles podem tornar-se num par ideal. Eles têm três saltos triplos diferentes. Isso é uma coisa séria na disciplina de pares.

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