sábado, 23 de julho de 2016

Tradução de entrevista da treinadora Inna Goncharenko



Tradução de entrevista da treinadora Inna Goncharenko


A treinadora russa Inna Goncharenko tem sido a principal responsável pelo sucesso da popular patinadora Elena Radionova. Actualmente ela também orienta Sergei Voronov e Maxim Kovtun que são recém-chegados ao seu grupo de trabalho. Recentemente ela concedeu uma entrevista a um órgão de comunicação social russo cuja tradução podem ler em baixo.



Pergunta (P) – Quantos atletas é que tens no teu grupo actualmente?

Goncharenko – Tenho três patinadores seniores – da selecção nacional da Rússia – Elena Radionova, Sergei Voronov e Maxim Kovtun. Tenho quatro patinadoras jovens: Alexandra Austriiskaya, Diana Guseva, Sofia Istomina e Alina Solovieva.

P – O Sergei Voronov e o Maxim Kovtun passaram para ti no final da temporada passada. Foi difícil para ti e para eles habituarem-se uns aos outros?

Goncharenko – Sergei juntou-se ao nosso grupo antes do Maxim e ele teve mais tempo para se adaptar. Para mim foi importante que eles compreendessem que querem mudar o que tem de ser mudado. Esse processo não é rápido. Quando uma pessoa trabalha durante muitos anos numa certa direcção, e depois é-lhe dito que tem de mudar algo, aprender qualquer coisa nova ou fazer correcções, é sempre difícil. É difícil psicologicamente porque levanta a questão: “Como é que eu vou aprender isto?”. Mas tens de aprender se queres continuar. O meu trabalho como treinadora é fazer com que o patinador entenda isso. Tu não consegues mudar a “visão do mudou” que um patinador experiente já construiu mas podes mudar a direcção um pouco. Isto acontece a qualquer treinador que receba um novo aluno. O treinador traz sempre algo de si próprio. Podes guiar um cavalo até á água mas não podes obriga-lo a beber. Eu dou o que posso a cada atleta e o que, na minha opinião, eles precisam. Se eles querem aceitar isso, então aceitem. Se eles não quiserem, eu não posso força-los. Não é não. Eles são adultos. Eles sabem o que querem da vida.



P – O que nos podes dizer sobre o teu trabalho com Maxim Kovtun?


Goncharenko – É outra história. Eu não estava à espera que corresse tão bem. Inicialmente, quando o Maxim começou a treinar connosco, eu estava apreensiva. Internamente, eu estava preocupada sobre se eu conseguiria compreendê-lo, sobre se eu conseguiria fazê-lo trabalhar. Mas afinal é um tipo de personalidade que me é muito familiar. Eu sinto-me confortável a trabalhar com o Max. Ainda não houve uma ocasião em que me fizesse ficar zangada. Até agora as coisas têm decorrido com suavidade. Talvez porque eu não exijo demasiado dele porque percebo que de momento isso seria irrealista. O Kovtun começou a preparar –se para a temporada mais tarde porque durante um período de tempo ele nem estava a patinar. Ele foi para Ecaterimburgo e teve exames na escola das reservas olímpicas. Depois disso ele foi de férias. A seguir ele começou a usar patins novos. Isso causou alguns problemas. Eu não sei o que é que teria acontecido se não fosse o Alexander Kuznetsov, que veio ter connosco e resolveu o problema.  Paralelamente à preparação da temporada, Kovtun terá de passar nos exames na Universidade estatal russa em educação física. Então este é um período difícil para ele. Mas eu vejo que o Max está a tentar lidar com tudo. Eu vejo que ele quer trabalhar. Ele percebe que querer é uma coisa e que realizar o volume de trabalho necessário é outra. Não é fácil porque ele costumava falar muito e depois procurava desculpas para o que não resultou. Então, por um lado, é mais fácil com adultos. Não tens de explicar-lhes coisas simples. Não tens de trabalhar com os pais para lhes dizer “Eu vou telefonar à tua mãe”, “Eu vou telefonar ao teu pai”. Eles são responsáveis por eles próprios. Por outro lado existem outros problemas. Eles são adultos mas a sua capacidade de compreensão para certas coisas nem sempre corresponde à idade que têm. Quando trabalhas com alguém desde a sua infância, como eu fiz com a Lena Radionova, tudo é diferente. Nós compreendemo-nos uma à outra sem precisar de palavras. Nós podemos perdoar, aceitar e tudo isso. Nós temos a nossa relação estabelecida. Naturalmente, que quando surgiu a questão sobre o Sergei e o Maxim, eu questionei a Lena pois a Lena é a Lena. Ele não teve nada contra. É sempre mais interessante quando existem outros patinadores seniores no grupo porque muda completamente o processo de treinos. As dinâmicas das relações no grupo mudaram. Os rapazes são rapazes; eles tratam a Lena como uma senhora, apoiam-na, fazem piadas para aliviar o estresse. Recentemente aconteceu uma cena numa sessão de treinos: a Lena estava quase a chorar porque qualquer coisa não estava a resultar, depois o Maxim patinou até ela e começou a falar-lhe. E ela respondeu “Max, por que é que não me deixas chorar? Era o que eu queria!” Momentos depois olhei para eles novamente e eles já se estavam a rir. Geralmente, nós temos alguns momentos divertidos nos treinos.


P – Por outras palavras, agora é mais fácil para a Lena treinar?


Goncharenko – Eu diria que é mais interessante. Os rapazes são divertidos; nós trabalhamos num ambiente relaxado. Mas se vais trabalhar arduamente, esforçares-te, então não vai ser fácil. Vai depender da tua atitude. De momento, todos estão numa boa onda, talvez porque é Verão e os atletas ainda não estão completamente atulhados em trabalho, apesar de terem havido alguns problemas no início. Isso acabou, sentimo-nos realizados e seguimos em frente.


P – Como é que tem sido trabalhar nos novos programas?


Goncharenko – Nós estamos agora durante o processo de trabalhar nos programas curtos e livres. Claro que algumas coisas vão mudar. Talvez até radicalmente porque tu não compreendes totalmente quão bem está feito até o patinares. Eu posso dizer que o programa curto da Lena vai ficar como está. Nós gostamos dele; é delicioso como diz a coreógrafa Elena Stanislavovna Maslennikova e é uma nova imagem para a Lena. Ela patina isso com grande prazer. O programa já é popular junto dos jogadores de hóquei locais. Às vezes eles vêm assistir aos nossos treinos e aplaudem com os sticks quando a Lena termina o seu programa. A reacção do público é importante. Isso significa que o programa provoca emoções e nós estamos felizes com isso. O Sergei Voronov já concluiu os seus dois programas. Eu penso que futuramente eles irão necessitar de algumas pequenas correcções, talvez acrescentando alguma coreografia. Esses programas foram coreografados por Nikolai Morozov. Inicialmente, nós tivemos algumas dúvidas sobre o curto. Nós mudámos a música e agora eu acho que nós acertamos. Os programas ajustam-se ao Sergei. Eles (os programas) ainda precisam de ser limpos. O Maxim chegou ao nosso grupo com o programa livre já coreografado pelo Peter Tchernyshev. É um programa interessante. Quando o vi pela primeira vez, eu percebi que é uma obra de arte. O Maxim põe a sua alma neste programa. Ele gosta da música. É notório que o Peter percebeu exactamente o que o Maxim gosta e fez o programa exclusivamente para ele. O máximo que poderá ser mudado no programa são as entradas nos saltos. Mas é de costume, quando começas a saltar é uma questão de prioridades: sacrificar algumas ideias coreográficas em favor da consistência. Claro que é uma pena mas vamos ver o que podemos fazer. Agora o programa está a ter alguma rodagem. Nós estamos a trabalhar em sequências de passos muito difíceis. O programa curto foi coreografado por Ilya Averbukh com a ajuda de Elena Maslennikova. A ideia do programa pertence ao Ilya. Nós gostámos e toda a gente estava numa boa onda durante o processo de trabalhar no programa. O resultado tem uma contribuição de todos, incluindo do Maxim. Ele envolveu-se imediatamente, oferecendo algumas coisas que no passado resultaram para ele. O Ilya também fez algumas sugestões; a Elena Stanislavovna trabalhou na parte do estilo. O “libretto” é muito interessante.  Mas é melhor ver o programa do que estar a falar sobre ele. Esse trabalho está completo. Eu quero agradecer ao Ilya Averbukh pela sua ajuda. Quando nós o abordámos, apesar da sua agenda apertada, ele concordou imediatamente. O Ilya viajou até Novogorsk. Ele veio num voo nocturno a partir de Sochi, trabalhou com a Evgenia Medvedeva e a seguir mudou para o Maxim. O Ilya tem uma bagagem criativa incrível e eu não deixo de ficar surpreendida em como ele consegue arranjar tempo para tudo. Nós estamos muito gratos pela sua ajuda e pelo seu apoio.




P – Geralmente, a sugestão para trabalhar com um coreógrafo parte do treinador mas a Elena Radionova manifestou o desejo de trabalhar com a Shae-Lynn Bourne.


Goncharenko – A Lena participou num espectáculo e ela viu como a Shae-Lynn Bourne trabalha; quando ela regressou, ela disse que queria fazer um programa com a Shae-Lynn. Naturalmente que eu a apoiei. A Lena está a amadurecer. Ela quer tentar tudo. Enquanto treinadora, eu só posso encorajar o desejo dos meus atletas em aprender algo novo, de abrir novos horizontes, aprender novos elementos… Eu estou muito contente que a Shae-Lynn concordou e arranjou tempo. Como eu disse, a Lena regressou do Canadá com um trabalho muito bem feito.



P – Já não falta muito tempo até aos testes*. Quero desejar-te sorte.


Goncharenko – Vamos fazer o nosso melhor. Quero agradecer a todos os que nos ajudaram no estágio e que continuam a ajudar-nos. Todos os coreógrafos e especialistas que eu não mencionei mas a quem estamos gratos. Obrigada à nossa coreógrafa Anna Bilibina e ao treinador e preparador físico Vitaly Balykin. Eu espero que o trabalho com esta equipa dê frutos.




*referência à importante semana de testes na Rússia em que a federação analisa o trabalho feito pelos patinadores durante a pré-época e os novos programas.

Elena Radionova é treinada por Inna Goncharenko há muitos anos.



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