quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Tradução de entrevista de Elena Radionova


Elena Radionova conquistou os corações de muitos fãs de patinagem artística quando ainda estava no escalão júnior. Depois de uma excelente transição para os seniores, onde venceu várias medalhas, Elena ficou de fora da selecção nacional russa para os europeus e mundiais da temporada passada. Elena está determinada em volta aos maiores palcos internacionais em grande nível e quer segurar um lugar na equipa russa para os próximos Jogos Olímpicos de Inverno. Entretanto, Elena concedeu uma entrevista à conceituada jornalista Elena Vaytsekhovskaya. Podem ler a tradução em baixo e consultar o link original aqui: http://www.sport-express.ru/se-velena/reviews/elena-radionova-menya-osuzhdayut-za-smenu-trenera-ya-gotova-k-etomu-1294133/




Tradução de entrevista

Pergunta: Como é que é ter subido tão alto em 2015 para depois seres descartada um ano depois?

Elena – Quase todos os patinadores passam por fases más. Então eu não fui descartada. Acho que foi uma hipótese para pensar e reconsiderar algumas coisas. Para perceber o que eu fiz de errado.

Pergunta: Tu habituaste toda a gente a seres capaz de competir; tu estavas sempre por cima das situações mesmo se tivesses patinado no limite. O que é que mudou? Quando é que apareceu a sensação de que as coisas estavam a correr mal?

Elena – Acho que desde o início da temporada. Eu tive lesões, depois fiquei doente e cheguei aos testes* sem estar preparada. Eu tentei ficar em forma durante a época mas não consegui. Eu compreendi que não tive a preparação que necessitava e estava a faltar o contacto habitual com a treinadora. Cada uma destas coisas em separado não foi nada de mais mas tudo junto levou a isso.

*referência à semana de testes na Rússia em que os patinadores apresentam os seus programas e elementos novos aos responsáveis da federação.

Pergunta: O Sergei Voronov e posteriormente o Maxim Kovtun juntaram-se ao grupo e a tua treinadora teve de dividir a atenção dela – quanto é que isso influenciou?

Elena – Eu tive excelentes treinos com o Maxim e o Sergei. Eu estive sempre focada em mim mesma então os rapazes apenas me motivavam.

Pergunta: Os parceiros de treino têm outro lado; durante muitos anos tu foste a única patinadora da tua treinadora e de repente passaste a ser apenas mais uma atleta, provavelmente nem sequer a principal atleta. Penso que isso não foi agradável de perceber?

Elena – Nessa altura eu recebi muita ajuda da Tatiana Tarasova. Então eu não me senti excluída.

Pergunta: Ela aconselhou-te a mudar de treinadora?

Elena – Não. A ideia foi minha.

Pergunta: Durante os campeonatos nacionais russos em Dezembro, passou-te pela cabeça que não conseguirias chegar à selecção?

Elena – Eu nem sequer estava a pensar na classificação; Eu apenas pensei em patinar ambos os meus programas de forma limpa. Mentalmente eu estava preparada. No geral eu apenas cometi um erro – um toque no gelo na recepção no triplo loop. Não foi uma falha terrível mas fiquei em quinto lugar. Talvez outra pessoa ficasse muito chateada. Eu convenci-me que eu apenas tinha de continuar. Sim, eu perdi. Acontece. É desporto.

Pergunta: Foi difícil não desistir sabendo que irias aos europeus nem aos mundiais?

Elena – Claro. Todos queremos vencer e cada derrota é dura. Eu obriguei-me a pensar nos Jogos Universitários; que eu tinha de patinar bem aí para ter uma hipótese de participar no WTT (World Team Trophy). Eu ganhei essa hipótese. Então eu não posso dizer que perdi os campeonatos nacionais e que a época acabou. Foi o oposto – aquela derrota fez-me ficar mais concentrada. Essa foram as coisas positivas dessa situação. No tempo que eu tive, eu pude analisar o que aconteceu e o que eu precisava fazer para melhorar e trabalhar nos erros que eu cometi.

Pergunta: Esses erros foram culpa tua? Ou foram as circunstâncias?

Elena – Claro que foram culpa minha.

Pergunta: O quê?

Elena – Não estou disposta a falar sobre isso agora. É suficiente que saiba as razões e que trabalhe nelas.

Pergunta: A (Shae-Lynn) Bourne coreografou o teu programa curto da temporada passada e depois toda a gente começou a dizer que ela 100% a tua coreógrafa. Esta é a razão pela qual foste trabalhar com ela outra vez?

Elena – Eu amei o programa e como foi recebido então eu decidi que na temporada seguinte eu iria trabalhar com a Shae-Lynn em pelo menos mais um programa.

Pergunta: Não estavas a planear manter esse programa curto por mais uma temporada?

Elena – Não é que eu estivesse a planear isso mas realmente gostaria de mantê-lo. Quando eu comecei a trabalhar com a Buyanova, de repente, ela disse que adoraria manter o programa por mais uma época, então nós chegámos a um acordo. Daí surgiu a ideia que a Shae-Lynn também coreografasse o programa livre. Eu adoro o estilo dela e nós temos um bom entendimento quando trabalhamos no gelo.

Pergunta: O que é que gostas mais quando trabalhas com a (Shae-Lynn) Bourne?

Elena – A Shae-Lynn tem o seu próprio estilo de patinagem que é muito da América do Norte. É diferente do nosso. Existem muitos pequenos detalhes que tu tens de efectuar com as pernas e os canadianos certificam-se sempre que cada movimento seja integrado na música.

Pergunta: É difícil?

Elena – Podes ter a certeza. O programa começa a brilhar quando acertas mesmo nos acentos da música. Para isso é preciso ouvir a música, sentir o tempo e tudo entra em piloto automático. Outra coisa que eu adoro no trabalho da Shae-Lynn é que todos os programas dela são muito diferentes. Ela consegue sempre trazer alguma coisa nova. Se seguires o trabalho de alguns coreógrafos, tu podes encontrar os mesmos passos e figuras que são repetidos noutros programas. A Shae-Lynn tem trazido coisas novas. Coisas diferentes dos outros.

Pergunta: A Tarasova disse uma vez que não faz mal manter o mesmo plano de elementos nos programas; quase todos os patinadores fazem isso.

Elena – Isso não é interessante. Olha para a Ashley Wagner – os programas dela são tão diferentes e, além disso, eu penso que a patinagem artística tem sobretudo a ver com o deslizar e expressar emoções. Claro que os saltos são importantes mas o público vem primeiramente ver-nos a patinar.

Pergunta: Tu mudaste de treinadora e de sistema. O que é que sentes sobre isso?

Elena – Francamente às vezes é difícil. O horário não é assim tão diferente mas há muito mais trabalho no deslizar e nos programas. Eu aprendo a patinar focada em cada movimento. Já não há apenas a passagem de um salto para o outro.

Pergunta: Era o que acontecia anteriormente?

Elena – Era como se eu estivesse mais focada apenas nos saltos. Agora as entradas exigem mais tempo e esforço do que o salto. É muito trabalho em cada movimento, em cada passo.

Pergunta: Provavelmente seria mais fácil se ainda não tivesses títulos.

Elena – O que é que queres dizer com isso?

Pergunta: Que alguém com experiência e com títulos tem mais dificuldade em admitir que não sabe alguma coisa ou demonstrar que não consegue fazer alguma coisa…

Elena – Pelo contrário. Eu vim aqui para aprender então eu escuto cada palavra. Há muitos especialistas que trabalham comigo e eu aprendo com cada um deles. É óptimo!

Pergunta: Os teus parentes tentaram fazer-te mudar de ideias quanto à mudança de treinadora?

Elena – Não.

Pergunta: Seguramente que discutiste o assunto com alguém.

Elena – Os meus pais sabiam que eu tinha essa ideia em mente. Eu e a minha mãe somos muito próximas; ela sempre teve uma grande presença na minha vida e ela sabia dos meus problemas e hesitações. Então, quando eu disse em casa que tinha tomado uma decisão, os meus parentes aceitaram-na. Isto ainda é um assunto difícil. Eu sou grata à Nina Germanovna por tudo o que ela fez por mim mas às vezes chega-se a um ponto sem retorno. Já não há o entendimento que costumava existir, algo já não funciona, o trabalho já não é satisfatório, já não há alegria e tudo o que parecia tão certo na tua vida se desvanece. Eu percebi o quanto eu devo à minha treinadora, o tempo que ela investiu em mim com o seu conhecimento, o seu amor e a sua alma. Mas o sentimento de ponto sem retorno prevaleceu.

Pergunta: Ficaste preocupada com o que iria ser dito sobre a mudança?

Elena – Na patinagem artística percebes muito cedo que existem pessoas que simplesmente gostam de ti e outras pessoas a quem tu irritas. Claro que eu sabia que as pessoas me iam julgar e estava preparada. Afinal de contas todos temos direito a ter uma opinião.

Pergunta: Tu já te tinhas ajustado com treinares apenas junto de patinadores homens. Quão confortável é que estás com a garota? A Maria Sotskova treina contigo na mesma pista.

Elena – Nós raramente passamos tempo juntas no gelo. Até agora tem corrido tudo bem.

Pergunta: A Maria irrita-te?

Elena – Não de todo. Eu simplesmente não tenho tempo para olhar à volta. Tenho tanta informação para digerir. Como se eu agora precisasse de lutar pela atenção da treinadora… Eu tenho um plano sobre o que necessito fazer e isso é o mais importante.

Pergunta: Estás a planear tornar os programas mais complexos?

Elena – Vamos apenas dizer que tenho coisas a discutir com a treinadora. Para já estamos a tratar de pequenas correcções. O grau de dificuldade actual é suficiente para mim.

Pergunta: As palavras “temporada olímpica” têm um significado especial para ti?

Elena – Francamente não. Eu não quero pensar sobre isso com muita antecedência. Eu tenho de trabalhar. Depois logo se vê.

Pergunta: Se tivesses a possibilidade de escolher as tuas provas do circuito do Grande Prémio, quais é que escolherias?

Elena – Russia e China – precisamente os que eu recebi. Eu patinei o grande prémio da China nas duas últimas temporadas e sou amada lá; É o país onde eu venci a minha primeira medalha num mundial e adoro patinar lá. E casa é casa. Eu adoro patinar para o público russo. O timing também é excelente: a Taça Rostelecom (Rússia) é a primeira e a Taça da China é a terceira, e, se tudo correr bem, eu terei tempo suficiente para me preparar para as próximas competições.

Pergunta: Quando olhei para as inscrições e vi que na primeira prova ias competir com a campeã mundial Evgenia Medvedeva, eu recordei-me de 2015 quando competiste com a Tuktamysheva. Tu não cometeste erros na final do Grande Prémio e nos Europeus mas nessas duas vezes ficaste atrás dela, nos Europeus por uma margem de apenas 0.86. Como é que te sentiste nessa altura?

Elena – Claro que eu fiquei muito chateada. Mas eu era uma criança que queria mesmo ganhar só que perdi. Agora eu vejo as coisas de maneira diferente. Foi a minha primeira temporada sénior, primeiros europeus e mundiais, e eu penso que estive bem para uma estreante. Sim, podia ter vencido os Europeus e ficado com o título mas do que é que vale estar a falar nisso agora? Se calhar as coisas tinham de acontecer assim.

Pergunta: Alguma vez te cansas da patinagem artística?

Elena – Não. Eu amo patinar, é a minha vida e como é que te podes cansar da vida? Além disso eu tenho outras coisas. Como por exemplo os estudos. Eu sou estudante externa.

Pergunta: É muito exigente e requer auto-disciplina.

Elena – Não tenho problemas com isso. Quando sei o que tenho de fazer, faço-o. Na escola era a mesma coisa. Eu estudava entre os treinos, tinha professores privados à noite e trabalhava nas matérias escolares e em inglês. Foi difícil mas fiz os meus exames sem problemas. Eu sei que sou eu que preciso disto.

Pergunta: Quando trabalhas com a Shae-Lynn, vocês falam em inglês?

Elena – Sim. Inicialmente, eu estava tensa mas depois fiquei mais confortável e comecei a falar. Eu percebi que tinha de praticar independentemente do que fizesse. Depois as coisas vão provavelmente funcionar.

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